Silêncio com nome próprio
Sou mãe. Fui mulher de um homem bom, que partiu cedo demais. E fui mãe de dois rapazes que a vida levou devagar, como quem apaga uma vela com os dedos.
A toxicodependência não chegou de repente. Veio como uma sombra, primeiro tímida, depois arrogante. E eu, que sempre fui de acreditar no amor como cura, vi que há dores que o amor não alcança.
O primeiro a cair foi o mais novo. Tinha olhos grandes e uma gargalhada que enchia a casa. Depois foi o mais velho, que tentava salvar o irmão e acabou por se perder também. Dois enterros. Dois silêncios. Duas ausências que não se explicam.
Hoje, a casa está cheia de fotografias e de um silêncio que tem nome. Chama-se culpa. Chama-se saudade. Chama-se “e se”.
Mas também sou feita de memória. E escrevo porque quero que se saiba: a toxicodependência não é só estatística. É uma mãe a olhar para dois quartos vazios. É uma mulher que aprendeu a viver com metade de si.