Finalmente, pele com pele
Um instante suspenso entre luz e sombra — um sussurro de memórias que atravessa o tempo, convidando-nos a olhar além do óbvio.
Quarenta e dois anos. Quarenta e dois anos de espera, de receios, de perguntas que me faziam corar. Quarenta e dois anos a ouvir que já devia ter acontecido, que era estranho, que era tarde demais. Mas ontem, finalmente, aconteceu. E não foi tarde. Foi perfeito.
O meu corpo, que tantas vezes escondi, entregou-se. Não houve vergonha, nem hesitação. Houve mãos que sabiam tocar, olhos que sabiam ver, e uma voz que me disse: “És linda assim.” E eu acreditei.
Foi como abrir uma janela depois de anos com os estores corridos. O ar entrou, a luz entrou, e eu entrei em mim. Senti-me viva, desejada, inteira. Senti o sangue a correr mais rápido, a pele a vibrar, o coração a bater fora do compasso.
Não foi só sexo. Foi libertação. Foi uma dança entre o que sou e o que sempre tive medo de ser. E hoje, ao acordar, não sou a mesma. Sou uma mulher que finalmente se permitiu sentir. E não quero voltar atrás.