Uma homenagem a todas as Flores do Ébano
Neste 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, deixo o meu tributo às mãos que nunca pararam de construir, cuidar e resistir: as mãos da mulher negra. Nasci e cresci em Portugal. Sou filha de pais angolanos, no entanto, reconheço em mim — e em tantas de nós — a força e determinação que herdei ao longo de gerações que trabalharam e continuam a trabalhar com o objetivo de conquistar o devido reconhecimento.
Infelizmente, este solo europeu ainda não nos vê por inteiro. O surgimento dos crescentes movimentos de extrema-direita na Europa ameaça e até diminui a nossa presença, empurrando muitas mulheres negras para as margens ou mesmo para fora deste espaço que também é nosso por direito.
A mulher negra continua a ser o pilar no seio da sua família e uma trabalhadora incansável, mesmo quando o seu valor é silenciado, mesmo quando precisa de provar — quase de forma obrigatória — que é capaz e que é merecedora de estar onde está.
Hoje celebramos mais do que o direito ao trabalho. Celebramos a nossa persistência em existir com dignidade, inteligência e beleza, mesmo quando o sistema insiste em apagar-nos.
Pelos passos que damos e continuaremos a dar, pelo espaço que ocupamos e continuaremos a ocupar, pelas lutas que enfrentamos e continuaremos a enfrentar, e por todas as tentativas de nos silenciar, só estamos a fazer uma coisa: reescrever a nossa história. E isto também é trabalho. Um trabalho diário, invisível, mas profundamente revolucionário.
Neste 1.º de Maio, ergamos a cabeça. Porque ser mulher, negra e trabalhadora é carregar o mundo nas costas — e ainda assim dançar com ele.
Mulher negra, a luta constante contra as adversidades, inspiração nas mudanças e a procura por um o caminho para um futuro mais justo, trilhado com dedicação e amor.